quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Al-Gober, a Terra Esquecida pelos Aeons



No noroeste do continente de Artabana fica o lugar conhecido como Al-Gober, dominado pela região inóspita conhecida como Deserto das Dunas Negras. Embora cartógrafos e geógrafos chamem Al-Gober de "nação", isso acaba se revelando para os exploradores que lá pisam quase como uma piada de mau gosto. Uma terra de ninguém, disputada por nômades oriundos das terras ao sul, escravistas da Tribo de Iblis e colonizadores de Windlan, Al-Gober já teria problemas suficientes apenas com suas guerras por território. Porém, o despertar recente de uma força obscura e antiga que estava lacrada sob a areia a tornou certamente um dos locais mais perigosos e desolados de todo o mundo.

Mas histórias antigas contadas pelos nômades ao redor da fogueira falam que nem sempre foi assim.

Dizem os ancestrais que há muito tempo atrás, quando as estrelas eram jovens, esse lugar que hoje é um deserto já foi uma fértil ilha, rodeada por um escuro mar que recobria toda a parte norte do continente. Florestas com árvores exuberantes e animais majestosos, que já não existem mais, se espalhavam por toda ela. Nesse lugar paradisíaco se desenvolveu uma próspera tribo de pescadores, que caçava as feras marinhas usando arpões de osso e se defendia de predadores da mata com armas fabricadas com uma rocha tão esverdeada e afiada como metal, extraída das montanhas que ficavam no centro da ilha.


Acredita-se que esse povo forte e simples tenha sido um dos primeiros grupos de humanos a pisar no mundo, mas mesmo nessa época eles ficaram frente a algo que era sem dúvida muito mais antigo do que eles.

Um dia um grupo de pescadores encontrou uma caverna dentro da qual havia um lago, de águas escuras e lodosas, em cujas profundezas algo vivia. Algo dormia. Algo sonhava. E seus sonhos inquietos faziam com que as rochas, a água e os animais se contorcessem e sofressem como se atingidos por um fogo invisível, que parecia se condensar na neblina fantasmagórica que cobria o lugar. Dizem os ancestrais que foi ao dormir nas margens desse grande e escuro poço que as pessoas tiveram seus primeiros pesadelos, e com eles veio um medo com o qual não sabiam lidar, pois tinha sua origem em uma sombra indefinida, que nunca era vista por mais que vigiassem a noite, mas atacava assim que eles fechavam os olhos para descansar. A maioria dos pescadores logo abandonou aquele lugar horrível, para poder voltar a repousar em paz. Mas alguns deles permaneceram na caverna, pois estavam atraídos, curiosos em descobrir o que era aquilo que lhes trazia visões durante o sono, provocando fenômenos estranhos e assustando os animais.

Segundo recentes pesquisas arqueológicas, esses remanescentes, que continuaram a ouvir a voz dos seres aprisionados no lago, enlouqueceram e passaram a ser evitados, sendo finalmente abandonados pelo resto da tribo. Ao que parece, com o tempo, eles descobriram em meio ao pandemônio abominável que invadia suas mentes um padrão, uma linguagem proibida e nefasta, oriunda de um abismo perdido na escuridão além do tempo. E aprenderam a decifrar o que ela dizia, descobrindo que as criaturas do lago lhes falavam e tinham consciência de suas existências. Porém, as mentes desses oráculos foram certamente estilhaçadas no processo, e eles sacrificaram a própria sanidade em troca desse conhecimento.E logo as entidades do lago exigiram algo mais.

Pouco tempo depois, as pessoas começaram a desaparecer a noite ou quando saiam sozinhas, e os exilados começaram a fazer estranhos desenhos nas paredes daquela caverna amaldiçoada, desenhos que não eram dos animais da ilha, mas de aberrações que nunca haviam sido vistas. Um dia, uma das pessoas desaparecidas reapareceu. Ele estava mais abalado do que qualquer um já havia visto, e falou sobre uma cidade inteira no oceano, uma cidade de torres de pedra que não havia sido construída por pessoas. Seu portão de entrada estava naquele lago profano, e os habitantes dela agora rastejavam para a superfície, guiados pelos exilados. O homem que disse isso estava claramente louco, mas todos concordaram que a aquela altura algo precisava ser feito. Vários dos homens mais fortes se juntaram para invadir a caverna, levando suas lanças e facas cor de esmeralda, para dar um fim aos exilados e seus planos insanos.

Apenas um retornou, em um estado ainda pior do que o primeiro fugitivo, sem conseguir sequer falar do que havia acontecido com os outros. Ele morreu gritando em desespero na primeira noite depois disso, pouco depois de ter adormecido.

Toda a tribo foi tomada pelo medo e pela agonia. Alguns construíram canoas e com elas fugiram para o mar, em busca de outra terra onde pudessem estar a salvo. Outros mais desesperados se juntaram aos exilados, aumentando suas fileiras ou se entregando como sacrifícios ao lago.

Porém alguns deles, por estarem muito velhos, por coragem ou por teimosia, permaneceram. Eles continuaram suas vidas mesmo que a cada noite corressem o risco de serem levados para o covil dos exilados. Foram esses que guardaram a história mais tarde contada a seus descendentes.

Porém, um dia uma das canoas retornou, e os que vinham nela disseram ter chegado a uma ilha na qual a luz do sol e da lua refletia em um mar de águas prateadas. Eles diziam que haviam encontrado um poder que podia silenciar as sombras demoníacas da caverna, pois era tão ou mais antigo que elas. Foram eles que trouxeram de volta os espíritos que muito antes das pessoas haviam vivido na ilha, e que agora moravam nas estrelas.

A partir desse ponto, a história costuma se confundir e variar bastante entre cada grupo nômade, pois acredito que parte da força narrativa da guerra entre os tais espíritos, que certamente eram Aeons, e os seres do lago, certamente alguns dos Horrores Antigos que habitam além da realidade concebida, está justamente em como as pessoas a vêem e nela espelham suas próprias esperanças e temores. As únicas coisas em comum a partir desse ponto entre todos os contadores de história é que houve um momento em que os seres do lago, já perto de serem derrotados, lançaram uma maldição sobre a montanha de rocha verde no centro da ilha, fazendo com que ela tremesse e como um ventre desse a luz a uma gigantesca praga. Essa praga, sem dúvida o próprio Al-Hazid, era uma nuvem de insetos gigantesca, que em pouco tempo devorou quase tudo que havia de vivo na ilha, a tornando estéril e desolada. Furiosos com uma atitude tão vil, os Aeons deram seu golpe final erguendo a parte do continente que hoje forma o extremo norte de Artabana, fazendo o mar recuar e deixando exposta a cidade nefasta habitada pelos seres além da loucura humana que controlavam os exilados. Sem a umidade e a escuridão, eles recuaram para as profundezas da terra, onde voltaram a hibernar. Depois disso, a praga foi aprisionada dentro da montanha da qual havia saído, não voltando a pisar a superfície outra vez... pelo menos até recentemente.

Além disso, nenhuma das histórias explica o fato mais sombrio de todos: o motivo desses espíritos terem sumido depois de realizar essa brusca mudança na face terrestre, nunca mais sendo ouvidos na região que agora é um gigantesco deserto de areias negras. A explicação mais comum é que esses Aeons de Al-Gober, cujos nomes e figuras são tão inexatos quando o motivo de seus desaparecimentos, exauriram suas forças durante o longo conflito, talvez pelo desgaste de terem vindo ao mundo físico e nele realizado tarefas tão árduas. Alguns acreditam que eles estão adormecidos em algum lugar, recuperando suas forças. Outros que sumiram para sempre, se sacrificando para salvar as pessoas que por eles suplicaram. E há quem acredite que eles ainda estão em Al-Gober, vigiando e observando, esperando que alguém aprenda a ouvi-los para então poderem trazer alguma esperança a terra abandonada, assombrada pelos uivos do vento do deserto e pelo zumbido de toda espécie de ser repugnante e rastejante, que arranca rispidamente daqueles que tentam viver nela qualquer esforço de fazer a vida prosperar.

Compilado e escrito por Abdul, Cronista Desbravador da Biblioteca de Rosetta.

3 comentários:

  1. Chorei ao ler esse post T.T
    Essa historia conheci de perto e foi muito, muito irada =]
    E é sempre bom conhecer a origem das coisas e no fim ir conhecendo mais o cenário e todo esse mundo =]

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  2. ...

    Isso quer dizer que eu tenho que terminar o meu texto agora, não é? Pqp, logo no final do semestre...

    i-i

    Pelo menos agora tenho informação pra ir mais a fundo... Ficou muito legal esse texto, congratulations.

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  3. Muito bom, poxa descrições excelentes! Descrições tão vividas que fiquei absorvido de verdade pelo texto! Parábens! Heu, quando pensar em narrar nesse cenário me avise porque gostaria de jogar nele. xD

    Longos dias e belas noites!

    Observação: Esse post me fez lembrar do conto do H.P.Lovecraft chamado "Aprisionado com os Faraós".

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